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Jorge Moraes

Guarani: Andamos no carro blindado do Exército que pode chegar a R$ 12 mi

Jorge Moraes

09/10/2019 12h12


Já pensou em dar uma voltinha em um carro blindado da defesa nacional? Da turma da infantaria mecanizada. Melhor ainda, entrar na fábrica de acesso restrito do modelo militar, rico em tecnologia, e viver uma experiência que pouca gente imagina?

UOL Carros fez isso para conhecer o Guarani, produzido pela Iveco Defence, em Sete Lagoas (MG). O veículo equipado pode custar até R$ 12 milhões dependendo do nível do armamento e equipamentos. O preço de largada da máquina fica na casa dos R$ 5 milhões e o EB já comprou 400 unidades. O carrão impressiona e, de imediato, foi o veículo mais caro que já andei na vida.

Visitamos a planta para conhecer o passo a passo da fabricação do veículo e o resumo da história será o seguinte: lembra quando alguém vê algo superlegal e diz "até parece que não estou no Brasil"? Essa é a impressão do lugar. Mas saiba que é bem diferente da que vivemos na Europa, por exemplo. A estrada do aeroporto de Confins até Sete Lagoas desanima qualquer um. A cidade então precisa passar por uma reforma de limpeza e visual. Mas questões à parte vamos seguir em frente.

O processo de produção é terreno de gigantes. Os vidros e as chapas de blindagem militar extremamente pesados entram em processo de fusão de montagem para formar a arquitetura do veículo que permite ao blindado navegar como anfíbio. O processo de pintura utiliza mais o homem e menos a máquina, até porque as cores e o desenho das manchas verdes (camuflagem) são aplicadas em moldes.

Dois motores elétricos e auxiliares trabalham para a movimentação das hélices que entram em funcionamento na hora do mergulho. Nós fizemos isso, de carona. Navegamos e vencemos obstáculos com mais de meio metro de altura no teste da tração 6×6. Rampas, subidas e descidas radicais.

O carro é feito para cumprir expedições na terra e na água. Legal ver o momento de preparação para o mergulho com o quebra ondas sendo separado da carroceria e criando um paredão. O Guarani, para ser feito, leva cerca de 3.200 horas de trabalho. Imagine que um carro comum pode levar um minuto na linha de produção. A estrutura de fabricação é pura tecnologia, e a capacitação humana na área de montagem é de uma perícia que exigiu treinamento internacional da equipe.

O veículo com sete metros de comprimento e 2,7 m de largura tem capacidade para transportar até onze pessoas e pesa 19 toneladas. O acesso dos ocupantes é feito pela porta traseira. Não pense que vai entrar pela escotilha onde aparece o motorista.

É uma pena não poder mostrar nada por dentro. No ajuste mecânico o carro pode chegar a 110 km/h. E quer saber? Não falta bem-estar a bordo para os militares que entram pela parte traseira. Além do ar-condicionado, o Guarani tem sistema automático que detecta e elimina incêndio além da baixa assinatura térmica (significa camuflagem para dificultar sua localização).

As unidades entregues ao Exército Brasileiro são utilizadas em missões de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) e também em operações de combate ao crime organizado nas regiões fronteiriças do país. A plataforma do Guarani poderá ser usada como base para o desenvolvimento de uma família de blindados em diferentes versões, entre as quais viaturas de reconhecimento, socorro, posto de comando, porta-morteiro e ambulância.

O motor

É um Cursor 9 Euro III, da FPT Industrial, configurado para entregar 383 cavalos. O conjunto mecânico recebeu reforços para atender as exigências da aplicação militar. As tampas do cabeçote do motor, originalmente de plástico, foram trocadas por tampas de ferro fundido.

O Guarani, apesar do tamanho e do peso, é rápido e ágil. A aceleração e as respostas são rápidas para o piloto que precisa de intercomunicador para falar com os colegas a bordo. Para se ter uma ideia, a pressão de injeção de um motor a gasolina convencional em um carro popular chega a três bar, enquanto o motor da FPT Industrial entrega 1.800 bar. A vida útil do motor é de 8.000 horas.

O Guarani está substituindo os modelos Urutu e Cascavel, em operação há mais de 40 anos nas Forças Armadas. A Iveco Defence também foi escolhida para ser a fornecedora da nova Viatura Blindada Multitarefa para o Exército Brasileiro. A montagem do LMV, que você já viu aqui no UOL Carros, será feita na planta de Sete Lagoas.

Sobre o Autor

Jornalista, Jorge Moraes trabalha com o segmento automotivo desde 1994. Presente nos principais salões internacionais, é editor do caderno de Carros no Diário de Pernambuco, diretor e apresentador do programa Auto Motor na Band, e âncora do programa CBN Motor na rádio CBN Recife.